Mônica Macedo, Nicolau Maranini, Sônia Camargo, Djalma Paz, Wilson Correa Fonseca e Wilson da Costa Bueno*
Resumo
O meios de comunicao de massa, por sua abrangncia e penetrao junto ao
pblico, podem atuar positivamente como auxiliares da educao em sade, fortalecendo
aes preventivas no campo da sade pblica. Uma anlise preliminar da grande
imprensa revela, no entanto, que essas expectativas no correspondem ao noticirio,
normalmente assistemtico e fragmentrio.
Introduo
Existe, na educao em sade, uma correlao
positiva entre o grau de conhecimento sobre as doenas, seus fatores de risco,
formas de preveno e tratamento e a adoo de hbitos saudveis, pelo indivduo
e pela comunidade. Embora no se possa dizer que essa correlao seja direta,
j que h contradies (1), amplamente aceita a noo de que indivduos mais
bem informados sobre medicina e sade esto mais atentos a comportamentos preventivos
e tm melhores condies de reagir s doenas. Ao mesmo tempo, os elevados custos
de implantao e manuteno dos servios de sade, bem como o envelhecimento
da populao e a incidncia de doenas crnicas, justificam a estratgia de
aes preventivas.
Nesse contexto, a divulgao de informaes
atravs dos meios de comunicao de massa tem sido reconhecida como fator auxiliar
importante, porque mantm os temas em pauta, atingindo um pblico potencial
de milhares de pessoas. No caso da imprensa, por exemplo, freqente que as
matrias de sade, quando bem elaboradas, provoquem reaes entusiasmadas de
leitores que encontram, no texto genrico, respostas para seus problemas pessoais.
Beatriz Dornelles ilustra essa reao, citando a carta de uma leitora relativa
a uma reportagem sobre "sndrome do pnico", publicada no Caderno
Vida, suplemento do jornal Zero Hora: "Quero agradecer enormemente
a esse jornal por ter divulgado matria sobre a doena do pnico. H mais de
dez anos sofro com esse problema, mas at antes de ler a matria, pensava que
era louca. (...) Hoje, depois de tomar conhecimento desse distrbio, finalmente
procurei o profissional correto e j estou em tratamento". (2)
Reaes como essa, no entanto, s so possveis
quando a imprensa agenda temas e desenvolve uma linguagem prpria divulgao
de sade, o que no acontece para a maior parte do noticirio. Uma anlise preliminar
dos grandes jornais mostra que, apesar de o espao dedicado sade ser relativamente
extenso, os textos freqentemente so muito formais ou tericos, raramente apelando
para o humor e para a anlise de experincias concretas. Apenas nos cadernos
especiais, nota-se maior preocupao em desenvolver temas de sade pblica e
preveno. Alguns pesquisadores identificam na cobertura de sade, informaes
fragmentadas e reprodutoras de esteretipos. Segundo Wilson Bueno, "podemos
definir a prtica brasileira de comunicao para a sade a partir de uma srie
de parmetros como a descontextualizao, a centralizao do foco na doena,
a viso preconceituosa das terapias e medicinas alternativas, a ideologia da
tecnificao, a legitimao do discurso da competncia e a espetacularizao
da cobertura na rea mdica, entre outros". (3)
Conhecimentos diversos
Divulgar e colaborar com a educao em
sade uma tarefa mais sutil do que pode parecer primeira vista. Simplesmente
bombardear os leitores com informaes no implica na possibilidade de provocar
mudanas de comportamento. Normalmente, os leitores reagem com enfado ao tom
excessivamente didtico de algumas matrias de sade e com desdm ao sensacionalismo
de outras.
Um estudo feito na Dinamarca (4) mostra
que os indivduos constrem e aplicam diferentes tipos de conhecimento em seu
cotidiano. Os pesquisadores entrevistaram cerca de 500 homens (5), na faixa
dos 40 anos, para avaliar a extenso de seu conhecimento sobre doenas do corao
e como este interferia em suas vidas. Verificaram que, apesar da atitude normalmente
negativa e defensiva em relao educao em sade, a maior parte deles possua
ampla informao sobre doenas cardacas (suas causas, preveno, etc). Contudo,
essa informao apenas muito devagar e gradualmente era acionada nos hbitos
do dia-a-dia.
Os tipos de conhecimento foram identificados
da seguinte forma:
a) conhecimento terico: vem de fontes externas e altamente cognitivo,
mas no sugere nenhuma ao concreta;
b) conhecimento aplicado: tambm vem de fontes externas, cognitivo,
mas d sugestes especficas de ao;
c) conhecimento experimental: a racionalizao de experincias significativas,
pessoais ou de outros;
d) conhecimento intuitivo: entendido como uma avaliao afetiva sobre
uma base prvia de experincias pessoais e informao cognitiva. Em geral, o
conhecimento terico e aplicado adquirido e estocado pelo indivduo, como
se fosse parte de sua "bagagem cultural". S levado em considerao
quando espelhado em experincia pessoais. Ou seja, no que o conhecimento terico
e aplicado seja reconhecido como intil pelas pessoas, mas os conhecimentos
de base afetiva podem sensibilizar mais do que consideram os educadores e comunicadores
de sade, normalmente preocupados em elaborar campanhas e reportagens que levem
populao o maior nmero de informaes possvel.
"A divulgao em sade cumpre uma funo
indireta na mudana dos hbitos de vida, mantendo o conhecimento j adquirido
e provendo novas informaes. Quando os assuntos de sade so colocados em pauta,
como resultado de uma discusso ou experincias pessoais, esse conhecimento
ajuda a formar o modo de reao dos indivduos s situaes que tm de enfrentar
ao longo da vida. (...) Por causa do peso que tem o conhecimento experimental
nas tomadas de deciso pessoais, particularmente importante, para a preveno,
mostrar o conhecimento terico sobre o que saudvel e o que no relacionando-o
a experincias individuais. Isto significa que a informao veiculada atravs
dos meios de comunicao de massa no inicia o processo cognitivo, mas serve
como uma fonte a mais no input de base afetiva". (6)
No Brasil, onde provavelmente o grau de
conhecimento de base terica sobre fatores de risco de doenas muito menor
do que na Dinamarca, os efeitos das mensagens de massa podem ser ainda menos
profundos ou imediatos sobre o comportamento do pblico. A cobertura da mdia
certamente no substitui aes (mais duradouras) como a educao formal. Entretanto,
os textos podem ser trabalhados de maneira a fornecer conhecimentos aplicados
e concretos, dirigidos a aes de combate a doenas endmicas e preveno, como
higiene corporal, hbitos alimentares, prtica de exerccios, e outros.
Existe um limite sutil, dizem os pesquisadores
dinamarqueses, entre levar o pblico exausto com infindveis publicidades
ou campanhas e manter a sade na pauta de discusses. "Ningum se importa
(com as doenas), at que comea a ouvir alguma coisa sobre o assunto. como
a AIDS. Em um dado momento o tema o que h de mais importante. Em outro
como se fosse algo normal. Quando no se fala na doena as pessoas
no a levam srio. Pensam que tudo ficar bem. Se as informaes so constantes,
ento todos comeam a pensar no assunto".
Levantamento nos jornais brasileiros
Para examinar a prtica da divulgao
de sade na imprensa brasileira foram selecionados sete jornais de abrangncia
nacional e regional: Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, Jornal
do Brasil, O Globo, Folha da Tarde, Jornal da Tarde
e Notcias Populares. Durante uma semana, de 22 a 28 de setembro de 1996,
coletou-se todas as matrias sobre sade, para analisar as seguintes categorias:
assuntos tratados nas matrias, fontes explcitas, procedncia geogrfica dos
fatos (lugar de referncia), gneros jornalsticos e destaque da matria no
jornal. Tambm foram analisadas, para efeito de comparao, as verses on
line de dois jornais: Jornal do Brasil e Estado de S. Paulo.
Os sete jornais escolhidos podem ser considerados
representativos dos padres de jornalismo predominantes na grande imprensa brasileira
atual. Quatro deles, Folha, Estado, O Globo e Jornal
do Brasil so os de maior circulao nacional. A Folha chega a atingir
a tiragem de 1 milho de exemplares aos domingos. So, portanto, os mais lidos
e de maior influncia na formao de opinio. Ao mesmo tempo, esses jornais
tm sede no eixo Rio-So Paulo, o mais desenvolvido do pas, que emprega grande
parte da mo-de-obra e concentra o maior nvel de consumo. Seu modelo editorial
muitas vezes acaba sendo "exportado" para outros jornais. De maneira
geral, guardadas algumas diferenas que possam aparecer em relao s pautas
regionais de sade, a cobertura dos sete jornais selecionados se presta a algumas
generalizaes, tal como pretendemos nesse levantamento.
Temas
Foram identificados 11 temas no noticirio
sobre sade. A "AIDS", que por suas propores e gravidade tem sido
um assunto recorrente, apareceu em 11% das matrias, junto com "tcnicas
e processos", que se refere a novos tratamentos, exames laboratoriais para
detectar doenas e outros. De forma geral, os temas variam bastante, sem que
se possa notar a hegemonia de qualquer um deles. A sade pblica, ao contrrio
do que normalmente se avalia na cobertura dos jornais, foi a mais citada, com
15% de incidncia. bom notar, contudo, que em geral os temas de sade pblica
so abordados de forma negativa. So matrias sobre a falta de vacinas ou os
custos muito altos de novas vacinas, para os pases subdesenvolvidos, a desnutrio
e as epidemias. Quando se fala de solues para os problemas de sade, muitas
vezes para valorizar iniciativas assistencialistas, sem levar em conta aes
estruturais.
Tabela 1
Temas das matrias sobre Sade
TEMA | JORNAL |
| NP | FT | JT | Folha | Estado | Globo | JB | Tot | % |
Curiosidades | 1 | | 2 | 1 | | 2 | | 6 | 4 |
Sexo | 1 | | | | 1 | | 2 | 4 | 3 |
Tcnicas/processos | 1 | 1 | 3 | 5 | 3 | 4 | 0 | 17 | 11 |
Cuidado com o corpo | | 1 | 1 | | | 1 | 1 | 4 | 3 |
Sade pblica | | 5 | 6 | 6 | 3 | 3 | 1 | 24 | 15 |
Fumo | | 2 | 1 | 4 | | 1 | 3 | 11 | 7 |
Aids | | 1 | 4 | 3 | 5 | 3 | 1 | 17 | 11 |
Cncer | | | 1 | | 2 | 6 | 3 | 12 | 8 |
Educao mdica | | 1 | | | | 1 | | 2 | 1 |
Equipamentos | | 1 | 1 | | 1 | | | 3 | 2 |
Estatsticas | | | | | | | 1 | 1 | 1 |
Drogas | | | 1 | 3 | | | 2 | 6 | 4 |
Produtos/Medicamentos | | | 3 | 1 | 5 | 2 | 3 | 14 | 9 |
Medicina alternativa | | | 1 | 1 | | | | 2 | 1 |
Gentica | | | 2 | | | | 2 | 4 | 3 |
Servios | | | 1 | | 2 | | | 3 | 2 |
Cardiologia | | | 1 | 3 | 1 | 5 | | 10 | 6 |
Evento | | | | 1 | 1 | | | 2 | 1 |
Literatura | | | | 3 | | | | 3 | 2 |
Diversos | | 1 | 2 | 7 | 2 | | 2 | 14 | 9 |
TOTAL | 3 | 13 | 30 | 38 | 26 | 28 | 21 | 159 | 100 |
Fontes
As fontes oficiais (rgos do governo,
universidades e institutos de pesquisa) e especialistas so predominantes na
cobertura de sade, totalizando 58% de incidncia e mostrando que o jornalismo
costuma legitimar o saber dito competente, minimizando o conhecimento de fontes
de informao menos prestigiadas como correntes da medicina alternativa e o
pblico leigo.
Neste levantamento, as fontes leigas so
citadas em 11% dos casos, o que no pouco se comparado com as sociedades cientficas
e os hospitais. O contexto em que aparecem geralmente das reportagens mais
extensas, em suplementos especiais de sade, como o "Caderno Mulher"
do Estado de S. Paulo da semana analisada. Nesses casos, o texto reflete
aspectos desejveis da informao em sade como a incluso de experincias pessoais
e depoimentos. Nos outros cadernos, contudo, os textos costumam ser mais curtos
e cada notcia faz referncia a uma ou duas fontes de informao, geralmente
mdicos e responsveis por rgos de sade.
As empresas privadas, ao contrrio do que
se esperava, no apareceram tanto como fonte de informao. Apenas em 2% dos
casos. No se pode deixar de mencionar, contudo, que os produtos e medicamentos
dos grandes laboratrios so mencionados em grande parte das reportagens sobre
doenas, com valorizao de abordagens curativas.
Procedncia
A imprensa tem valorizado a cobertura
nacional de sade, dando maior equilbrio entre as referncias nacionais (49%)
e internacionais (43%). Em relao ao contedo de ambas que se pode verificar
certa discrepncia. Embora o dado no esteja quantificado, a leitura das matrias
mostrou que quando se trata de divulgar pesquisas cientficas e desenvolvimentos
da medicina, em geral, so citadas universidades e centros de pesquisa estrangeiros
(de pases desenvolvidos). No caso das matrias nacionais, muitas delas so
sobre fatos ligados a aspectos do subdesenvolvimento, como desnutrio, epidemias,
precariedade dos servios de sade. Mas esto tambm muito ligadas a temas concretos
do cotidiano como poluio ambiental nos grandes centros, doenas sazonais e
outras, caracterizando-se, muitas vezes, por um jornalismo de servios.
Destaque
Esta categoria foi includa com o objetivo
de observar a importncia atribuda sade relativamente a outros temas no
jornal. Apenas duas vezes (7% dos casos) o assunto foi manchete do jornal. Ambas
no Notcias Populares, jornal que valoriza o noticirio policial, de
tom sensacionalista.
Jornalismo on line
Inicialmente relutantes em adaptar suas
notcias ao formato eletrnico, vrios jornais j possuem suas home pages
na Internet. Atravs da rede, o leitor pode acessar a verso eletrnica do jornal
diariamente e, em geral, tambm consultar edies anteriores. As empresas no
demoraram a perceber a importncia dessa tecnologia para o jornalismo. No caso
brasileiro, a grande imprensa j faz investimentos macios em suas verses on
line, comprando novas linhas telefnicas e equipamentos de ltima gerao
(que melhore o acesso de seus usurios), contratando pessoal especializado e
criando servios exclusivos, via rede. O jornalismo on line uma modalidade
que vem crescendo e se modificando a cada dia, atingindo pblicos maiores.
No caso dos dois jornais pesquisados, Jornal
do Brasil e Estado de SP, o primeiro pioneiro na Internet no Brasil
e o segundo est no lado oposto - poca, fazia investimentos mais modestos,
no sendo muito conhecido pelo servio on line. O servio mais gil do
Estado de S. Paulo oferecido pela Agncia Estado, que traz notcias
e fotos a toda hora. O JB tambm tem a Agncia JB, que, da mesma
forma, funciona acoplada ao jornal.
Hipertextos
Uma das principais caractersticas da
informao on line o chamado hipertexto, uma estrutura de construo
pela qual palavras-chave (ou imagens) servem como porta de acesso a outros textos.
Isto torna o texto inicial potencialmente infinito e refora a idia de intertextualidade.
O hipertexto pode, inclusive, vir a introduzir um novo gnero jornalstico,
a partir das mudanas na hierarquia das informaes que pensada e realizada
diferentemente do meio impresso.
O hipertexto coloca em questo tambm os
padres de redao jornalstica at ento utilizados. Em geral, o leitor da
Internet no est interessado em ver, passo a passo, a ntegra das matrias
do jornal do dia. Ele quer achar uma "viso geral" da edio e os
links (ncoras) necessrios caso queira informar-se mais sobre o assunto.
A interao texto-imagem-som tambm introduz
modificaes significativas. O cone j se consagrou como uma interface das
mais amigveis com o computador. Com o avano da tecnologia, ser cada vez mais
necessrio que o usurio leigo seja capaz de usar um aparato sofisticado sem
grandes conhecimentos em informtica. A questo da interatividade dever ser
pensada, diante das possibilidades de composio que se oferecem.
Jornal do Brasil - verso on line
e verso impressa
A verso on line do Jornal do
Brasil praticamente idntica verso impressa, no que concerne o contedo.
As matrias aparecem na ntegra, apesar de nem todas as notcias impressas irem
para a edio eletrnica. As editorias tambm so as mesmas, apesar de no aparecerem
na mesma ordem.
No JB, as matrias sobre sade esto
concentradas na editoria de cincia. O jornal mais tradicional em relao
ao assunto e divide as matrias em sees mais precisas. Tambm preciso dizer
que o noticirio idntico ao da verso impressa, sem contudo se fazer acompanhar
das respectivas fotos.
Na semana pesquisada, a nica matria de
sade do JB que aparecia na verso on line, mas no na impressa,
era a que se entitulava "Sexo preocupa brasileiro". Tratava-se da
cobertura de uma sesso de bate-papo on line entre uma psicloga contratada
pelo jornal e os leitores. O bate-papo um "acontecimento" anunciado
com antecedncia pelo jornal nas suas edies on line, em que algum
(do jornal) fica disponvel em um canal, que, no dia e hora marcados, acessado
pelos leitores atravs da prpria home page e estes podem trocar informaes
em tempo real com o interlocutor e entre si, como se estivessem em uma sala
de debates.
Muitas matrias so feitas por uma nica
correspondente (Roselena Nicolau), que fica em Belo Horizonte, embora haja tambm
matrias de agncias internacionais. A impresso de que uma boa parte das
reportagens fria, como se no houvesse uma equipe permanente dedicada cobertura
de assuntos de sade. De quatro matrias, pelo menos trs, foram levantadas
no mesmo local e praticamente com as mesmas fontes, como no caso do Congresso
da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, realizado em Belo Horizonte.
Pelo menos trs dias da semana apresentaram matrias cujo tema era semelhante
e as fontes sempre membros das sociedades mdicas, ou especialistas presentes
ao Congresso. De forma geral, prevalece a palavra dos especialistas como fonte
de informao da notcia.
Estado de So Paulo - verso on
line e verso impressa
O Estado de S. Paulo apresentou
uma verso on line significativamente reduzida em relao a sua verso
impressa. Em compensao muitas matrias podem ser facilmente acessadas atravs
da Agncia Estado e h tambm alguns suplementos especiais, com reportagens
extensas e bastante completas.
nesse setor que a cobertura de sade do
Estado de S. Paulo se destacou. O "Caderno Mulher" trazia,
no dia 22 de setembro, trs matrias: uma sobre problemas do sono, outra sobre
alergias respiratrias e outra sobre obesidade. Cada uma conta com vrias matrias
de apoio e um glossrio com os termos mais tcnicos.
Temas
Nos dois jornais apareceram 14 temas ao
longo da semana. Quase todos correspondem aos dos jornais impressos, pois as
edies so as mesmas, exceto pelas matrias do "bate-papo", no JB.
A menor quantidade de temas no Estado de S. Paulo (12 matrias por oposio
s 17 do JB) no representa necessariamente uma menor cobertura da rea
de sade, pois, em geral, as matrias recebem um tratamento mais detalhista,
sendo acompanhadas por textos de apoio, vocabulrios, pesquisas, etc.
O nico assunto que apresentou certa predominncia
foi "medicamentos", que aparece cinco vezes no JB e uma vez
no Estado de S. Paulo. Com freqncia, a cura o foco da notcia, referindo-se
a medicamentos e busca de uma espcie de cura "fcil", por remdios
que eliminem a necessidade de um tratamento prolongado e disciplinado, com restries
para o paciente.
Fontes
O tratamento mais detalhista verificado
em algumas matrias do Estado de S. Paulo est refletido tambm nas fontes.
O nmero de leigos ouvidos o que chama mais ateno: 11 por oposio a dois
no JB. Mas mesmo de forma geral, o Estado de S. Paulo recorre
a mais fontes do que o JB, o que certamente est ligado ao fato de uma
nica reprter ser responsvel por quase todas as matrias de sade no Jornal
do Brasil. Seu tempo disponvel para ouvir fontes distintas, em vrios lugares,
provavelmente mais reduzido que o dos reprteres da cobertura do Estado
de S. Paulo.
Entretanto, preciso notar novamente que
as matrias mais detalhistas do Estado de S. Paulo so sobretudo as do
caderno especial. As da edio diria acompanham o padro do JB. Neste
ltimo, o texto rigorosamente igual ao do impresso, com o detalhe de que as
fotos no estavam disponveis na verso on line. Os textos da editoria
de cincia so finais, ou seja, em nenhum deles foram encontrados links para
outros sites de cincia ou para textos complementares.
Gneros
A reportagem , sem dvida, o gnero predominante
- doze (100%) no Estado de S. Paulo e onze (64%) no JB. As matrias,
em geral, no so muito extensas e trazem essencialmente informaes consideradas
novidades sobre os assuntos. Contudo, nota-se no texto o trabalho da entrevista,
da busca de significao de alguns conceitos e uma pincelada de pesquisa histrica
sobre o tema. Em geral, como se a reportagem assumisse o formato da notcia,
embora mantenha caractersticas tpicas da reportagem como as acima mencionadas.
Procedncia
As notcias nacionais assumiram equivalncia
com as internacionais. Ao todo, nos dois jornais, h dez matrias de procedncia
internacional e 16 nacionais.
Concluses
De forma geral, a cobertura de sade na
imprensa apresenta um gancho importante com fatos da atualidade, o que certamente
ajuda a despertar maior interesse entre os leitores, pois os assuntos se aproximam
do cotidiano. Entretanto, verifica-se que os temas s recebem tratamento mais
detalhado, com fontes diversas e meno a casos de exemplo nos cadernos especiais,
publicados apenas esporadicamente, qui em uma s edio. As matrias do noticirio
geral so curtas, tm poucas (muitas vezes s uma) fontes de informao e, quando
se trata de divulgar estudos cientficos, geralmente fazem referncia a pesquisas
internacionais, explorando pouco suas repercusses no contexto nacional, como
o caso das notcias "Gene alterado proteo contra a AIDS" e "Jovem
fumante tem pulmes mais fracos" (Jornal do Brasil, 27 de setembro).
Algumas matrias, ainda, apelam claramente para um sensacionalismo disfarado
de modernidade cientfica, como o caso da entrevista com o mdico que faz
operaes para aumentar o tamanho do pnis.
Ao ouvir depoimentos de jornalistas, verifica-se
que existe ainda na mdia um amadorismo muito grande no que diz respeito elaborao
de pautas e realizao de reportagens em sade. Diz Dornelles, "para os
mdicos, qualquer tema deve ser divulgado e as pessoas precisam tomar conhecimento
deles para poderem atuar frente aos problemas. J os jornalistas, (...) fazem
ressalva a alguns temas, sob o argumento de que o leitor no gosta de ler assuntos
pesados e isso pode provocar o desprestgio do suplemento, alm de no vender
jornal. Esses jornalistas avaliam a reao do pblico com base em suas caractersticas
e gostos pessoais". (7)
A imprensa pode provocar, indiretamente,
mudanas nos comportamentos individuais e sociais, mas ela sozinha no suficiente
educao para sade. Mesmo assim, seu papel importante para manter viva
a memria das pessoas sobre assuntos de sade e tornar aplicveis os conhecimentos
tericos adquiridos por outros meios. Para isso, os jornalistas precisam estar
atentos s pesquisas sobre comunicao e sade, para que as matrias desenvolvam
pautas e linguagens acessveis ao pblico, e trabalhar em maior cooperao com
os mdicos e cientistas.
Referncias bibliogrficas
(1) As campanhas contra o cigarro so o melhor exemplo. J existem provas suficientes
de que o cigarro faz mal sade e cobertura ostensiva dos meios de comunicao
sobre o assunto. Mesmo assim, muitos continuam fumando e a indstria do tabaco
segue sendo uma das maiores do mundo.
(2) DORNELLES, Beatriz. "Sade na imprensa: mudana social possvel",
Comunicarte, vol. 12, no 20, p. 21-33, Campinas, Puccamp, 1995/1996.
(3) BUENO, Wilson da Costa. Comunicao para a sade: uma experincia brasileira,
So Paulo, Pliade, Amparo, Unimed/Amparo, 1996, p. 15.
(4) MEILLIER, LUND & GERDES. "The backpack function of Health Education:
use of knowledge types concerning prevention of coronary heart disease",
Science Communication, vol. 18, no 3, march/1997. London, Sage Periodicals
Press, 1997.
(5) 477 responderam a um questionrio fechado e 21 participaram de entrevistas
qualitativas.
(6) MEILLIER, LUND & GERDES. op. cit., p.235.
(7) DORNELLES. op. cit., p.32.
Bibliografia
DORNELLES, Beatriz. "Sade na imprensa: mudana social possvel",
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LOPES, Boanerges & NASCIMENTO, Josias (orgs.). Sade & Imprensa
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O que o brasileiro pensa da Cincia e da Tecnologia? - a imagem da cincia
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Available from Internet: <URL: http://www.unicamp.br/NIB/informe/intern1.htm>
FAYARD, P. La ecommunication scientifique publique. Lyon, Chronique Sociale,
1988.
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OBS: Relatório de pesquisa realizado no programa de pós-graduação em Comunicação Social da UMESP, coordenada pelo prof. dr. Wilson da Costa Bueno, na disciplina Jornalismo Científico
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*Mônica Macedo é jornalista, mestre e doutoranda em Comunicação Social pela UMESP.
*Wilson da Costa Bueno, professor do programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP